Prof. NELSON- Notícia

Projeto da UFG converte resíduos em produtos de alto valor agregado

Em 17/11/20 14:53. Atualizada em 17/11/20 14:53.

“Geramos milhões de toneladas de lixo que, na verdade, é dinheiro que jogamos fora”, diz coordenador da pesquisa

Talita Prudente (PRPG)

“Raspas e restos nos interessam” é um lema que norteia algumas das pesquisas do grupo que investiga a conversão de resíduos e rejeitos em novos produtos e processos de alto valor agregado, no Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES-UFG). O projeto é coordenado pelo professor Nelson Roberto Antoniosi Filho, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, e promove soluções sustentáveis voltadas ao desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país.

Através de reações químicas e processos físicos, os pesquisadores reciclam materiais que seriam descartados pela sociedade ou pela indústria e os transformam em novos produtos úteis (coprodutos). Essa gestão de resíduos combate o desperdício e o acúmulo de detritos em aterros, lixões e na natureza. Além disso, as técnicas de reciclagem são uma opção econômica para a crescente demanda industrial por matéria-prima, diminuindo a necessidade de extração de recursos naturais para tal.

Nelson Antoniosi

“Desconhecemos a palavra rejeitos! Nos recusamos a dizer que existem coisas que não podem ser reaproveitadas”, diz Nelson Antoniosi, doutor em Química Analítica pela USP. No LAMES, óleo de cozinha usado se transforma no biocombustível biodiesel, retalhos de tecido viram base para tintas e tijolos balísticos, restos de cascas e sementes de tomate constituem fibras para barras de cereais, suplementos alimentares e cosméticos e a partir de uma simples borra de café surgem fertilizantes e filtros para purificação de água. Nas palavras do professor “o lixo vira luxo”. Confira alguns destaques do projeto:

TECIDO: Para moldar as peças de roupas, a indústria têxtil perde altas quantidades de tecido entre um corte e outro. Antigamente, esses retalhos eram vendidos e reaproveitados por costureiras na fabricação caseira de produtos como colchas e tapetes. Com a industrialização, os pequenos artesãos perderam espaço no mercado, tomado por uma produção desenfreada de bens. Hoje, existem empresas que terceirizam o descarte desse resíduo têxtil. “Isso é insustentável”, comenta Nelson Antoniosi. No projeto de conversão, esses retalhos são transformados em imitações de mármore, lubrificantes e base para tintas. Os pesquisadores também desenvolveram um tijolo balístico através da trituração do tecido com resíduos de barragem. Os tijolos para construções resistentes podem ser utilizados em áreas com alta movimentação militar e de armamentos como zonas de guerra.

ÓLEO DE COZINHA: Quando descartado no esgoto, o óleo é degradado por microrganismos formando sabão. A espuma polui aquíferos e rios. O grupo coordenado pelo professor desenvolveu três produtos a partir da reciclagem desse óleo usado: Biodiesel, Biograxas e Biolubrificantes. “Daqui a alguns anos não teremos mais combustíveis fósseis e consequentemente não faremos mais a prospecção do petróleo para produzir lubrificantes fósseis. A partir do óleo usado podemos produzir biolubrificantes, que são até melhores que os derivados do petróleo”, comenta Nelson.

PLÁSTICOS: Oceanos e rios estão abarrotados de plástico que causam a destruição da flora e da fauna marinha. Nelson explica que a água que bebemos também possui partículas de microplásticos, o que pode causar doenças como o câncer. Os cientistas do LAMES aquecem três tipos de plásticos (polietileno, polipropileno e poliestireno) em um sistema fechado auto sustentável e os convertem em uma mistura que corresponde a querosene de aviação.

TOMATE: Quando o tomate chega na indústria alimentícia ele é triturado e aquecido para virar molho. A indústria peneira o molho para retirar a pele e a semente do fruto. Para que o resíduo não contamine os afluentes, o grupo do LAMES os transforma em fibras utilizadas para substituição da aveia, óleos e suplementos. A patente da UFG já foi aplicada em empresas do ramo do tomate e atualmente desperta o interesse de uma grande empresa de atomatados, com a qual o professor Antoniosi negocia os direitos de uso. “A casca do tomate possui antioxidantes como o betacaroteno e o licopeno, o qual previne o câncer de próstata. Ao ser aquecido, o licopeno fica mais disponível para que seja metabolizado pelo organismo. Podemos encapsulá-lo para a venda em farmácias”, explica Nelson. Além disso, o professor destaca que, ao retirar o óleo da semente do tomate, sobra um pó com alto valor proteico, comercializado como suplemento alimentar.

Economia sustentável

O que seria lixo, vira matéria-prima para o setor industrial, fomentando a economia com cadeias produtivas limpas e ecológicas. “A sociedade precisa se envolver nos projetos de coleta seletiva e repasse desses materiais residuais para o setor produtivo, de modo que ele possa transformá-los em bens de consumo valiosos para o que esses setores produzem, gerando empregos e lucro”, ressalta Antoniosi ao trazer à tona os conceitos de economia circular e logística reversa.

A logística reversa é um dos instrumentos em prol da sustentabilidade estabelecidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), por empresas e pelo poder público. Ela é definida como “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.

Porém, Antoniosi reforça que a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos até hoje não é cumprida e que existem lacunas entre as soluções produzidas na universidade e a implantação dessas inovações no dia a dia. “O Brasil tem essas políticas no papel, mas não tem na prática. Meu maior desejo é fazer com que nossos projetos cheguem à sociedade na forma de processos e produtos estabelecidos. A sociedade também precisa de consciência ambiental. Precisamos tomar providências nem que sejam pequenas, e não esperar que apenas os políticos as façam. Se cada um fizer um pouco, conseguiremos melhorar a condição ambiental do planeta e evitar nossa própria extinção”, finaliza o professor.

O projeto coordenado por Nelson Antoniosi integra a linha de pesquisa “Conservação, desenvolvimento e sociedade", do PPGCIAMB, conceito 6 na CAPES, que está com edital aberto para mestrado e doutorado até o dia 25 de novembro.

Acesse o site do LAMES (https://lames.quimica.ufg.br/p/4032-lames-na-midia) e conheça mais sobre esse e outros projetos.

Fonte: Secom UFG

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